quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Zezolla





Um conto de fadas do II Pentamerão, de Giambattista Basile é uma versão de Cinderela (La Gatta Cennerentola), cuja personagem principal é nomeada Zezolla. Bem, este não é um nome que tenha sido usado na Itália, ou nos Estados Unidos, ou em qualquer outro lugar tampouco. Essa primeira versão de Cinderela, possivelmente a primeira registrada em papel, conta a história infelizmente bastante comum sobre uma criança miserável que é abusada pela sua madrasta.

A governanta casa-se com o pai de Zezolla, um príncipe que não é nomeado na história, e traz com ela suas seis filhas cruéis. Seu pai é convencido de que as meninas filhas da governanta são graciosas, e que Zezolla é feita para o trabalho, como uma serva, e assim ela começa a trabalhar, recebendo um tratamento terrível por parte de sua madrasta.

Todos eles passam a chama-la de “gata borralheira”. Há muitas diferenças entre a história de Basile e o conto de Cinderela que conhecemos hoje. No caso do conto de Basile, o pai da Cinderela não morre, e a fada que veste Zezolla para o baile vive em uma árvore que seu pai trouxe da Sardenha. No baile, a pessoa que se apaixona por ela é realmente um rei, e embora ela lhe escape duas vezes, ele finalmente descobre onde ela está, quando seu chinelo dado por fadas ganha vida e salta de volta para seu pé, o lugar onde pertencia.

O rei a declara sua rainha, e a governanta e o pai de Zezolla, assim como suas irmãs ficam muito envergonhados. Todos ficam felizes para sempre. Por curiosidade, as outras filhas são chamadas Mperia (do nome Imperia), Calamita (que poderia ser a partir da palavra calamidade), Sciorella, Diamante, Colommina (provavelmente a partir de Columba, palavra italiana para “pomba”) e Pascarella (de Pascoal). Todos os nomes são semelhantes a palavras italianas ou nomes de locais, como a montanha Sciora di Dentro, por exemplo.

No livro “Fadas no Divã: Psicanálise das Histórias Infantis”, encontramos uma versão mais adaptável para ser entendida no Blog:

Cenerentola conta as desventuras de Zezolla, a filha de um viúvo, mimada por ele e por uma governanta que lhe era muito devota. Passado algum tempo do luto, o pai casou-se com uma mulher malvada, que dedicava à enteada um péssimo humor. Enquanto isso, Zezolla não parava de lamentar o quanto desejaria que a governanta fosse sua madrasta, em vez dessa terrível mulher. Foi essa queixa que oportunizou a Carmosina (a governanta), propor à Zezolla uma forma de matar a madrasta e depois insistir junto ao pai para que a desposasse. A menina fez tudo conforme planejaram: deixou cair a tampa de um baú sobre o pescoço da madrasta e depois convenceu o pai a efetuar novas bodas com Carmosina, a qual havia prometido que lhe seria fielmente dedicada. Durante as bodas do pai, Zezolla recebeu a visita de uma pomba que lhe disse: “quando você desejar alguma coisa, mande o pedido para a Pomba das Fadas, na Ilha da Sardenha, e você terá seu anseio instantaneamente atendido”.

Não demorou muito tempo para que a nova madrasta trouxesse para a família suas seis filhas, mantidas ocultas até então, e Zezolla começasse a ser tratada como criada, vivendo na cozinha, entre as cinzas da lareira. O pai esqueceu-se da filha, ficando totalmente envolvido com as enteadas, a quem dedicava mais atenção. Em certa ocasião, o pai teve de tratar de negócios na Sardenha, e oportunizou a cada filha que lhe pedisse presentes. As seis enteadas fizeram suas encomendas de roupas, perfumes e enfeites. Dirigindo-se com ar zombeteiro à própria filha – lembrava de todos menos do seu próprio sangue, diz a história – permitiu-lhe fazer também um pedido. Ela respondeu que nada queria, mas pediu que levasse suas recomendações à Pomba das Fadas e lhe oferecesse a possibilidade de ela lhe mandar alguma coisa. Ele comprou tudo que foi solicitado, mas esqueceu do pedido da filha. Porém, ela havia lançado um feitiço: se ele não a atendesse, não teria como voltar. O navio em que pretendia regressar não pode sair do porto. Só então ele lembrou do pedido da filha e vai providenciá-lo. Depois disso, enfim, o navio zarpa. Meio a contragosto, ele trouxe para ela o que as fadas enviaram: uma muda de tamareira, uma enxada de ouro, um balde também de ouro e um guardanapo de seda.

Zezolla plantou a árvore com os instrumentos que se revelaram mágicos, regava-a e limpava suas folhas. Em poucos dias a árvore havia crescido, “alta como uma mulher”. De seu interior saiu uma fada que lhe perguntou o que ela queria. Ela respondeu que queria poder sair da casa sem que suas irmãs soubessem. A fada lhe ensinou as palavras mágicas, que entre outras, dizia para tamareira ao sair: “Dispa-se e vista-me rápido” e ao voltar: “Dispa-me e se vista” (como se a árvore lhe emprestasse roupas).

Chegada a temporada de bailes, Zezolla compareceu suntuosamente vestida, transportada por uma luxuosa carruagem, a ponto de polarizar completamente a atenção do rei (que pelo jeito era solteiro). Na saída da gesta, o rei colocou um servo para segui-la, mas ela jogou moedas de ouro no chão e ele se distraiu recolhendo-as. Dessa forma, conseguiu manter seu mistério. No segundo baile, apresentou-se ainda mais luxuosamente paramentada, dançou com o rei, mas voltou a fugir, dessa vez, jogando pedras preciosas que tinha preparado para livrar-se do criado que novamente a seguia a mando do Rei. Ainda numa terceira festa, a cena se repetiu, ainda com mais ostentação. Como o rei estava muito determinado a descobrir quem era, foi obrigada a fugir correndo e na pressa, deixou seu tamanco cair.

O rei organizou grandes jantares para experimentar o tamanco em todas as damas do reino, mas em nenhuma delas serviu um calçado tão delicado. Desesperado, lançou um pedido aos seus súditos, para que apresentassem todas as candidatas possíveis. Em função disso, o pai de Zezolla lhe comentou que tinha mais uma filha em casa, mas que ela era tão esfarrapada e suja que não poderia sentar-se à mesa real. Mesmo assim, o soberano ordenou que ela fosse trazida à sua presença, e assim que a viu, soube que era a moça que estava buscando. O conto não relata como ela estava trajada nessa ocasião, mas pelo jeito, estava com seus andrajos costumeiros. Assim que ela se sentou para experimentar o pequeno tamanco, ele arremessou-se magicamente para seu pé, reconhecendo sua dona. Zezolla então foi coroada imediatamente, e às irmãs coube apenas morrerem de inveja e correrem para casa queixar-se para a mãe da injustiça de não terem sido escolhidas.


Não é fácil encontrar o significado de Zezolla, sendo que em outras versões italianas posteriores a Cinderela é equivalente à Cenerentola, da palavra “ceneri”, que significa “cinzas”.

Nunca presenciei o uso de Zezolla no Brasil - para falar a verde, em país nenhum - 
e não é fácil encontrar informações sobre ele. A terminação lembra Paola e Lola, no caso de ser lido com "o" fechado - mas um nome com "Z" geralmente causa um pouco de estranhamento, especialmente quando vem com dois "z" de bônus. 







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