quarta-feira, 30 de março de 2016

Colocar ou não o mesmo nome do pai ou do avô no filho?

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Essa é uma questão que, para muitos, é sinônimo de homenagem, respeito e consideração... mas, a meu interpretar das coisas, é uma atitude que deve ser repensada. Talvez nos dias atuais não vemos tantos casos de atribuição do nome do pai, do avô... nos filhos como antigamente, onde o poder e o sobrenome da família andavam juntos. Mas, o que podemos dizer desta prática sob o aspecto social e psicológico?


Quando uma criança vem ao mundo, nasce com ela expectativas dos pais, parentes, amigos... que se baseiam no que os pais são. Antigamente, no interior do nosso país, uma pessoa era ‘facilmente julgada’ em seu caráter quando era perguntado: “Ele é filho de quem?” e essa pergunta geralmente era respondida com um sobrenome, ou seja, era a família ‘dos Pereira’, ‘dos Santos’, ‘dos Nogueira’... Já em famílias mais tradicionais e favorecidas economicamente é mais comum ainda vermos nomes completos repassados entre as gerações. Mas, o que isso tem de mais? Vamos tomar como exemplos dois casos distintos: o de uma família pobre e o de uma família rica. Iniciaremos com a família pobre.


Imaginemos que o Sr. Augusto da Silva seja um carpinteiro muito conceituado em sua profissão e que tenha aprendido esse ofício com seu pai, que aprendeu com seu avô e assim sucessivamente. Quando o Sr. Augusto da Silva tem um filho homem, resolve colocar seu nome na criança e faz planos para ensiná-lo desde cedo a carpintaria que foi transmitida entre as gerações. Podemos levar em conta que hoje em dia, os adolescentes se interessam pela internet e/ou vídeo game e que ser carpinteiro aos 15 anos já não é mais um plano tão real assim. O que faz o Sr. Augusto da Silva com seu filho? Talvez depois de muita insistência para o filho seguir sua profissão assim como seu avô, bisavô... esse jovem acabe tendo problemas com esse pai e com o restante da família que se sentiu desafiada e resolva seguir sua vida a outro modo. Como essa criança, agora adolescente, vai lidar com a pressão externa de não seguir o ofício da família e ainda arcar com ‘o peso’ de carregar o mesmo nome do pai, do avô... que foram exemplos no que faziam? Devemos pensar também no sofrimento causado neste filho...
   

Já o exemplo da família rica é bem semelhante, mas talvez a dimensão do problema seja maior. Imaginemos o Sr. Paulo Gouveia Sanches, empresário bem sucedido e que há três gerações mantém a empresa construtora de imóveis que tenha um filho homem. Resolve então chamá-lo de Paulo Gouveia Sanches Junior. Desde então faz planos para quando seu filho se formar, assumir a presidência da empresa... até imagina o dia de sua posse. Essa criança vai crescendo e lá na adolescência percebe que não que seguir a carreira do pai e decide viver como músico. O que fazer?
   

Em primeiro lugar, o adolescente terá que aprender a lidar com toda e qualquer reação do pai diante desta decisão. Quando os pais tem filhos se esquecem que os filhos são do mundo e não deles. Depois, terá que se ver diante de seu convívio social, ou seja, famílias de classe média e alta geralmente se relacionam com pessoas que valorizam status e formação dos filhos e depois ainda terá que carregar, assim como o Augusto da Silva, um nome que pode ou não trazer boas recordações da família. Existem muitos casos de transtornos psicológicos, por exemplo, em filhos de famílias ricas que não aceitavam suas escolhas. O status social às vezes impede os pais de aceitarem que tem um problema em casa e procurar ajuda.
  
  
Já vi muitos casos de filhos que não gostam de ser chamados por seus nomes, preferindo ser chamados somente de Junior por que esse nome carrega alguma lembrança dolorosa e expectativas frustradas de pais incompreensivos. Coloquei os exemplos acima para que minha intenção de explicar a dimensão deste problema fique bem clara, mas não delego aqui nenhuma obrigação aos pais e leitores sobre colocar ou não seu próprio nome no filho mas acredito que, se esse nome carregar alguma tradição, alguma expectativa... a decisão deve ser repensada a fim de não causar problemas futuros à crianças que são somente ‘filhos para mundo’ e não somente expectativas que devem ser realizadas.


*Os nomes utilizados nos exemplos são meramente fictícios, sem qualquer relação com a realidade. 







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