terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O amor dos brasileiros pelo “lly”




Os nomes próprios tem uma origem, um sentido, uma etimologia. Alguns surgiram há milhares de anos, e foram legitimados por incontáveis pessoas que usaram esses nomes ao longo dos séculos. São nomes carregados de história, de simbologia, de significado. Nomes com origens no grego, latim, germânico, celta, enfim, permeiam hoje nosso cotidiano.

É claro que ao usar um nome latino, pessoas de países anglófonos o adaptaram à sua língua. Assim como o uso de nomes de raiz germânica em países hispânicos ou lusófonos. Deste modo, um nome pode ter inúmeras versões em diferentes línguas pelo mundo afora. Essas versões são o retrato das adaptações linguísticas que cada povo deu ao uso de determinados nomes próprios.

Podemos concluir com essa afirmação, que o costume de adaptar nomes de outras línguas para sua linguagem materna é antigo e válido. Foi assim que Alienor deu origem a Eleonora. Que Yacobus deu origem a Jacó e James. Que Chlodovech deu origem ao nosso bom e velho Luís. Alice, um dos mais populares da lista brasileira e queridinhos do momento, tem incontáveis versões a partir do germânico Adalheidis.

Porém, essas adaptações ocorreram em um momento da história da humanidade em que havia pouquíssimo intercâmbio cultural entre os povos. As trocas entre determinadas culturas eram bastante restritas, logo, fazia sentido que os nomes próprios fossem pescados numa outra nação e “remodelado” para a outra língua. Agora, vivemos em mundo globalizado onde as trocas culturais são praticamente instantâneas.

Ainda assim, adaptações ocorrem e com frequência: a fama da Lady Diana fez com que outros países de língua hispânica ou portuguesa criassem “Daiana”, uma modificação gráfica que segue a pronúncia em inglês; Assim também ocorreu com Maicon (Michael), Dienifer (Jennifer), Géssica (Jessica), Rosimeri (Rosemary), Uiliam (William), Deivid (David), Ruan (Juan). Essas adaptações, embora totalmente desaconselháveis, são compreensíveis do ponto de vista prático: Os pais desejam que seja usada aquela pronúncia, e então adaptam a grafia para atingi-la.

Mas existem outras adaptações que são bastante temerárias. Uma delas, e que tem sido usada em larga escala no Brasil – talvez em outros países, que a gente não possui dados para contabilizar – é a terminação “LLY” em nomes que não tem essa terminação nem aqui, nem em nenhum lugar ou língua presente neste planeta.

Não se pode dizer que usar Gabrielly em vez de Gabrielle é um desejo de adaptar a pronúncia, já que a pronúncia é deliberadamente a mesma. Uma das possibilidades é que tenham inspirado todos os demais nomes com possibilidade de mudar a terminação para “LLY” em Kelly, um nome que foi extremamente popular nos anos 90, e continua sendo usado ainda hoje (basta ver os 115 registros em São Paulo, conforme a Arpen/SP de 2014).

Outra hipótese, bem plausível, é a americanização da cultura brasileira em todos os sentidos. Assim, colocar “LLY” no final dos nomes pode ser uma tentativa – frustrada, claro – de “americanizar” um nome, torna-lo semelhante aos nomes usados nos Estados Unidos, país esse que é usado como referência do que “é melhor”, do que “é bom”, em detrimento da cultura brasileira ou de outros países. Entretanto, nomes com LLY usados em inglês também são fruto de adaptações.

No raciocínio dessas pessoas, quanto mais letras, quanto mais repetições, quanto mais W, K e Y no nome, mais “americano” ele fica, e por isso é bom, por que é o oposto do que existe na língua portuguesa, sua língua materna. Mesmo que tais modificações do nome, se fossem pesquisadas cuidadosamente, não façam parte de nenhuma das variantes válidas em inglês. Por exemplo, Emily é um nome válido em inglês e usado no território estadunidense: mas aqui acaba virando Emilly.

É possível que as pessoas associem a “americanização” do nome a torna-lo mais chique, elegante, refinado. Para essas mesmas pessoas, talvez João e Maria sejam nomes bregas, enquanto Raquelly e outros nomes semelhantes sejam nomes requintados, elegantes, cheios de potencial de sucesso. O ato de nomear os filhos também é uma espécie de manifestação social, e quem faz isso, está negando de alguma forma sua própria origem, cultura, nacionalidade, desejando para o filho o rompimento com isso tudo.

De alguma forma, é a mesma lógica de pessoas – que possuem um pouco mais de discernimento e informação – que estão procurando nomes internacionais para os filhos, desejando com isso que no futuro essa criança seja “internacionalizada”. Ou ainda, a tendência cada vez mais verificada no Brasil de tirar os acentos dos nomes na hora de registrar, pois a maioria das línguas não possui ou não usa os acentos como nós usamos no português. A lógica é a mesma, a única diferença é o grau de informação e conhecimento sobre a realidade.

O fato é que, se em determinados círculos sociais essa terminação LLY é considerada elegante ou bonita, na grande maioria dos outros círculos sociais que a criança vai passar ao longo da sua infância, ou depois como adulta, esses nomes tem conotação social ruim. É como uma assinatura, uma marca. Por isso ele é desaconselhável de todas as formas possíveis. O ato de nomear um filho se rege por um daqueles princípios em que “MENOS É MAIS”. Elegância é simplicidade, é a escrita correta, é o conceito de “clean” (limpo).

Um nome com LLY no final fica automaticamente poluído. Demonstra claramente que os pais não pesquisaram grafias corretas e nem ligaram para esse detalhe. Mostra que a referência de sua vida é que qualquer coisa que seja americana é melhor do que tudo que é brasileiro. E evidencia ignorância, pois esse conceito é muito ultrapassado e ligado à geração dos anos 80, que tinha os Estados Unidos como modelo – e hoje sabemos que eles servem de modelo para pouca coisa.


Então, se você quer ser elegante, fino(a), de bom gosto, esqueça imediatamente qualquer americanização, se desejar colocar um nome estrangeiro, use, mas pesquise a grafia correta, caso contrário, use a escrita certa dentro da língua portuguesa. É um cuidado a mais que você tem com a vida e com o futuro de seu filho


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6 comentários:

  1. Corretíssimo,eu sou: José,João,Maria, etc...

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    2. Parabéns pela colocação, Leandro. Vamos marcar nossa geração! Estou para ser PAI pela sexta vez (graças a Deus) e os nomes das 04 meninas terminam em LLY. Essa é a nova história que vamos contar por algumas gerações

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Amei sua colocação Leandro,a minha filha coloquei Ranielly e acho lindo não vou por ninguém

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  4. A minha se chama Gabrielly e sempre sonhei com esse nome e não vou por ninguém também. É o nome mais lindo que acho é se tiver outra filha menina se chamará Emanuelly

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